A pastagem nos períodos
secos apresenta deficiências como a redução dos teores de proteínas e aumento
no conteúdo de fibra de baixa qualidade na alimentação animal. Em virtude
disso, há mais demora na digestão e redução do consumo de outros alimentos,
resultando em perda de peso e de produtividade nos rebanhos.
Para minimizar essas
perdas entre criadores de caprinos e ovinos, a Embrapa adotará uma estratégia
de divulgação voltada para intensificar o uso de uma solução tecnológica: a
mistura múltipla, como suplemento alimentar que corrige deficiências da
forragem no período seco. A campanha, que foi lançada no dia 8 de novembro, no
SemiáridoShow, em Petrolina (PE), utilizará diversas mídias para orientar
produtores rurais e técnicos do semiárido sobre a recomendação da nova fórmula
desta suplementação e sobre os momentos mais adequados para seu uso ao longo do
ano.
Segundo o zootecnista
Diego Galvani, pesquisador da área de Nutrição Animal da Embrapa Caprinos e
Ovinos (Sobral-CE), a campanha atende a demandas e dúvidas de produtores, que
manifestam dificuldades na identificação dos períodos mais adequados para uso
do suplemento. "A mistura múltipla deve ser usada somente durante cinco ou
seis meses no ano. Um uso que começa no período de transição do período chuvoso
para o seco, quando o produtor observar sua pastagem secar, transformando-se na
chamada palhada, por volta da época entre maio e junho", esclarece ele.
Este uso se prolonga
até o momento em que começam as primeiras chuvas no semiárido brasileiro
(costumeiramente entre dezembro e janeiro), quando o produtor começar a
observar suas plantas forrageiras brotando. Neste momento, o fornecimento da
mistura múltipla deve ser interrompido. "É importante observar que este
não é um suplemento voltado para altos índices de produção. Ele é utilizado
para evitar que animais percam peso no período seco", destaca Diego.
A nova fórmula da
mistura múltipla, recomendada aos produtores desde 2015, tem como objetivo
facilitar o uso do suplemento, uma vez que dispensa o período de adaptação no
consumo dos rebanhos, necessário na formulação anterior. "Este período de
adaptação se revelou um gargalo, porque poderia durar até três semanas e, caso
se interrompesse, era necessário iniciar tudo novamente", explica Galvani.
Uma outra dificuldade
era regular a quantidade de ureia fornecida na mistura. Ela é a principal fonte
de nitrogênio na composição do suplemento, mas caso seja fornecida em conteúdo
acima do recomendável, pode causar intoxicações e até mesmo levar os animais à
morte. "Com o ajuste na fórmula, dispensamos o período de adaptação e o
risco de intoxicação torna-se quase nulo, uma vez que a quantidade de sal
fornecida regula o consumo dos animais", afirma o pesquisador.
A partir de novembro,
as recomendações para uso da mistura múltipla serão divulgadas em veículos de
comunicação, mídias e redes sociais, assim como encaminhadas para públicos como
produtores e técnicos de assistência técnica e extensão rural. A expectativa é
replicar experiências bem sucedidas no uso do suplemento, como é o caso de
Edmilson Mourão, produtor de Crateús, no sertão de Inhamuns-Crateús, que
concentra os maiores rebanhos de ovinos no Ceará. Engenheiro agrônomo de
formação, ele teve contato com a nova fórmula por meio de buscas na Internet,
onde encontrou a recomendação em publicações da Embrapa.
"A mistura
múltipla tem proporcionado uma ajuda muito boa, em um período como o atual, em
que já vivemos sete anos de secas. Traz um enriquecimento na alimentação,
reduzindo as dificuldades de aproveitamento da dieta", destaca Edmilson.
Estes bons indicadores têm levado o engenheiro agrônomo a recomendar a mistura
múltipla a outros produtores da região, que procuram o suplemento na casa
agropecuária da qual ele também é proprietário.
Mistura
Múltipla
Composta por
ingredientes que garantem fontes de energia e proteína, além do sal comum e
suplementos minerais balanceados, a mistura múltipla para caprinos e ovinos tem
objetivo de corrigir deficiências da forragem disponível no período seco,
permitindo que os animais possam ingerir maior quantidade de pastagem seca
diariamente. Com seu uso adequado, a perspectiva é de que a produtividade de
animais de corte ou leiteiros seja mais regular durante o ano.
O suplemento pode ser
disponibilizado à vontade nos comedouros, uma vez que o consumo individual é
regulado pela quantidade de sal na formulação. A mistura múltipla deve ser
fornecida a animais saudáveis e que tenham acesso a quantidades suficientes de
forragem de baixa qualidade, como palhada, feno e outros resíduos fibrosos. Seu
fornecimento deve ser evitado para animais famintos ou debilitados.
Outra recomendação para
produtores que adotem a mistura múltipla é que os comedouros tenham furos no
assoalho, para drenar a quantidade de chuvas não esperadas. A ureia dissolve-se
facilmente na água, o que pode resultar em consumo exagerado para animais que
tiverem acesso a comedouros cheios de água.
Integração
com outras soluções tecnológicas
De acordo com o
pesquisador Diego Galvani, a recomendação do uso da mistura múltipla também se
integrará a outras soluções tecnológicas lançadas pela Embrapa Caprinos e
Ovinos neste ano: o Serviço de Assessoria Nutricional Remota para Pequenos
Ruminantes (AssessoNutri), lançado em julho, e o aplicativo da orçamentação
forrageira para telefones celulares, que também será lançado no SemiáridoShow.
"Muitas das deficiências nutricionais indicadas a partir do monitoramento
dos rebanhos pelo AssessoNutri poderão ser corrigidas com a mistura. E o
aplicativo ajudará na administração da quantidade de forragem adequada",
detalha o pesquisador.
O AssessoNutri um
serviço de assessoria que, por meio de análises de coletas de fezes de animais
com a tecnologia de espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS), pode
avaliar a composição da dieta dos animais, a qualidade nutricional dos pastos e
se há necessidade dos criadores usarem suplementação na alimentação dos
rebanhos. O AssessoNutri permite a elaboração de laudos com as recomendações
para nutrição a partir dos resultados das análises.
Já o aplicativo vai
facilitar o manejo da forragem e da reserva de alimento nas propriedades
rurais, indicando o saldo forrageiro a partir dos dados sobre rebanhos e fontes
de alimentação dos animais. Ele também poderá ajudar na tomada de decisões como
a inserção ou retirada de animais de áreas de pastagens ou sobre eventuais
necessidades de descartes em momentos mais críticos de reserva de alimentos.
www.caprilvirtual.com.br
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