Um monitoramento
nacional dos custos de produção animal dos principais polos brasileiros faz um
raio-X econômico da aquicultura e a iniciativa começa a ser reproduzida para
diagnósticos sobre caprinocultura e ovinocultura. O trabalho é realizado por
meio de parceria entre Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA), no âmbito do projeto Campo Futuro. Participam especialistas da
Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) e Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).
Periodicamente
profissionais da CNA e da Embrapa visitam os polos produtivos para, em conjunto
com produtores e fornecedores de insumos, estimar a estrutura de custos de
produção mais adequada para a região. O trabalho com a aquicultura, em
andamento há dez meses, já visitou os polos de Bahia e Pernambuco, Paraná,
Tocantins e Mato Grosso e pretende coletar dados da produção de peixes, em
Rondônia, e de camarões e peixes no Ceará e Rio Grande do Norte. Além do
camarão vannamei, são alvo da pesquisa as principais espécies de peixe
produzidas no Brasil: tambaqui, pintado e tilápia.
No estudo sobre
caprinos e ovinos, os especialistas da Embrapa Caprinos e Ovinos e da CNA estão
identificando e caracterizando as principais regiões produtoras do País.
Modelo de produção
local
Assim como na pesquisa
com pescado, estão previstos painéis com atores da produção de caprinos e
ovinos no segundo semestre deste ano. Com a participação de produtores rurais,
sindicatos, associações e prestadores de serviços, os pesquisadores pretendem caracterizar
o que seria a propriedade "modal" em cada região, modelo que reúne as
principais características dos sistemas de produção locais.
Os dados fornecerão
informações valiosas para a pesquisa e para os arranjos regionais. "Será
possível detectar, por exemplo, quais ações trarão mais impacto numa atividade.
Numa região em que o preço da ração pese muito, a construção de uma fábrica
local desse insumo poderá impulsionar significativamente a produção, por
exemplo", explica Valladão.
Essas informações poderão
embasar diversos artigos científicos sobre socioeconomia. "Com uma série
histórica consolidada, poderemos observar tendências, comparar regiões, sugerir
trocas de boas práticas e muitas outras ações que ajudarão produtores,
fornecedores, empresas do setor e gestores públicos, além de ser uma rica fonte
de dados para análises econômicas", afirmou o pesquisador. A equipe
publicará boletins trimestrais com as análises dos polos produtivos.
"Até agora,
tínhamos estudos pontuais para projetos de pesquisa, mas não um levantamento
mais abrangente para caprinocultura ou ovinocultura", endossa Klinger
Magalhães, pesquisador da área de Socioeconomia da Embrapa Caprinos e Ovinos
(CE). Para ele, a proposta do Campo Futuro motiva as instituições envolvidas a
elaborar um diagnóstico sobre custos de produção em um âmbito territorial
significativo, reunindo informações do Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Sudeste -
as principais regiões produtoras de caprinos e ovinos no País.
"É, sem dúvida,
uma necessidade. Um conhecimento dessa natureza fornecido ao criador é muito
bem-vindo", destaca Edemundo Grassler, superintendente do registro
genealógico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), entidade
que reúne produtores de 25 estados brasileiros. Segundo ele, as fontes de
informação sobre custos de produção na ovinocultura ainda são difusas:
pesquisas pontuais de pessoas vinculadas ao setor produtivo, de entidades de
classe ou até mesmo provenientes de contatos pessoais com outros produtores. A
ausência de informações mais detalhadas dificulta os processos de tomada de
decisão, o embasamento de políticas públicas e o gerenciamento das unidades
produtivas no meio rural.
Para além da produção
A rede de parceiros
informantes permitirá, ainda, que os dados sobre custos de produção sejam
atualizados mensalmente, garantindo informação mais fiel à realidade dos
centros produtores, além de propor uma nova realidade que pode aproximar ainda
mais as instituições de pesquisa do setor produtivo. "Iniciativas como esta
são importantes porque o Brasil já tem entidades competentes que podem
colaborar com pesquisas ainda mais próximas da cadeia produtiva, seguindo o
modelo de países como o Uruguai", opina Grassler.
Nos painéis que serão
realizados com os atores da cadeia da caprinocultura, os participantes ajudarão
a identificar a rotina de custos, verificando os gastos assumidos pela
propriedade rural ao longo de um ciclo produtivo. Entre eles, os valores de
alimentação, medicamentos, adubo, fertilizantes, impostos, encargos trabalhistas,
máquinas, equipamentos, levando em conta fatores como depreciações e juros.
A partir de 2016, após
a realização dos painéis, os dados serão divulgados pelo boletim Campo Futuro e
na publicação Ativos do Campo, disponibilizados pela CNA para sindicatos rurais
e federações de agricultura e pecuária em todo o País. As informações também
poderão ser acessadas no site da CNA e, futuramente, no Centro de Inteligência
de Caprinos e Ovinos da Embrapa.
Perspectivas futuras
De acordo com a equipe
da Embrapa Caprinos e Ovinos, a rede de parceiros e informantes que está sendo
constituída para colaborar com o projeto Campo Futuro também deverá embasar
ações futuras, como a sistematização de indicadores de preços de produtos da
caprinocultura e ovinocultura no Brasil. A ideia é ter, também, indicadores
para cotação de preços de produtos como carne, lã, pele, leite e seus
derivados, nas diferentes regiões do território nacional.
A Embrapa pretende
avançar para, futuramente, concretizar o Centro de Inteligência de Caprinos e
Ovinos, com um sistema de dados para interface com os usuários por meio de uma
página na internet. "O Centro será uma oportunidade para prestar
informações para os vários elos da cadeia, como produtores rurais, responsáveis
por políticas públicas, entre outros. Temos hoje um cenário propício, com uma
equipe estruturada e capaz de analisar cenários, em integração com o sistema
Agropensa da Embrapa", ressalta Ferelli.
Projeto Campo Futuro
Executado pela CNA e
Senar, o projeto Campo Futuro se dá em parceria com instituições de ensino,
pesquisa e sindicatos rurais, para gerar informações sobre commodities e
cadeias produtivas, para acompanhar a evolução dos custos de produção nos
principais polos produtores da agropecuária brasileira. Atualmente, o projeto
já acompanha indicadores de conjuntura e de desempenho da aquicultura,
cana-de-açúcar, café, fruticultura, grãos, bovinocultura de corte e de leite.
O projeto alia
capacitação do produtor rural à geração de informação para a administração de
riscos de preços, de custos e de produção na propriedade rural. Para cada
cadeia produtiva, o Campo Futuro busca conhecer os fatores determinantes da
oferta e demanda dos produtos e outros elementos do mercado que influenciam o
comportamento dos custos e preços.
Fonte: Capril Virtual
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