Região é a única do país onde rebanhos de caprinos e de ovinos
apresentaram, simultaneamente, crescimento entre os anos de 2006 e 2017
O Nordeste brasileiro é a única região onde os rebanhos de caprinos e de
ovinos cresceram ao mesmo tempo, entre os anos de 2006 e 2017. É o que revela o
mais recente Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), divulgado em caráter preliminar no dia 27 de julho. Na
região, o rebanho de caprinos teve aumento de 18,38%, passando de cerca de 6,4
milhões de cabeças para 7,6 milhões. No caso dos ovinos, o Nordeste foi, ainda,
a única região do país a ter crescimento de rebanho entre um Censo e outro,
passando de 7,7 milhões de animais em 2006 para cerca de 9 milhões em 2017,
crescimento de 15,94%.
Segundo o engenheiro agrônomo Cícero Lucena, analista da Área de
Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos, entre os fatores para
este crescimento está o destaque da caprinocultura como atividade
socioeconômica de grande importância para o Semiárido brasileiro, que concentra
90% do efetivo do rebanho nacional. “Enquanto as demais regiões do país, como
Sul e Sudeste, apresentaram redução do rebanho, a região Nordeste apresentou um
crescimento de 18%, mesmo após os últimos cinco anos de secas severas
registradas na região, evidenciando a grande adaptabilidade do rebanho, e em
muitos municípios, constituindo-se em uma das principais fontes de segurança
alimentar e de renda para os agricultores”, ressalta ele.
Para o pesquisador, Espedito Cezário Martins, também da Embrapa Caprinos
e Ovinos, é possível identificar, a partir do levantamento do censo, que a
ovinocultura de corte praticada na região Nordeste do Brasil, onde está
concentrado cerca de 65% do rebanho ovino do país, contribui para um papel de
destaque da atividade na pecuária nacional, mesmo com uma crise no mercado de
lã ovina no Sul do país. “É inevitável fazermos um paralelo com a pecuária
bovina. Esta última apresentou uma redução de 2,44% do rebanho nacional, sendo
esta redução mais acentuada na região Nordeste, que registrou uma queda de
16,1%, quando comparado ao censo de 2006, uma redução de 4 milhões de cabeças
de bovinos na pecuária nordestina. Possivelmente, estes números indicam efeitos
negativos mais severos para os bovinos, provocados pelos longos períodos de
secas ocorridos na região Nordeste nos últimos 5 anos”,
O Censo mostrou que a caprinocultura brasileira alcançou 8,25 milhões de
cabeças, um crescimento de 16% do efetivo do rebanho, quando comparado ao censo
anterior, divulgado em 2006. O crescimento do rebanho foi acompanhado do
aumento do número de estabelecimentos agropecuários, que apresentou taxa
semelhante, passando de 286,6 mil para 333,9 mil propriedades com exploração de
caprinos no país.
Para Cícero Lucena, estes aumentos verificados no rebanho caprino e nos
estabelecimentos se refletiram também no aumento do número de animais
comercializados. “Este número praticamente dobrou, passando de 1,15 milhões
para 1,90 milhões de cabeças, um crescimento de 65% no período entre 2006 e
2017”, destacou ele. Cicero ressalta
também o crescimento em valor obtido com a venda de caprinos: a cifra de R$ 290
milhões em 2017 supera em cerca de 300% a verificada em 2006 (R$ 73 milhões).
Já o preço médio de venda dos animais passou de R$ 63,64 para R$ 153,06,
correspondendo a um aumento nominal de 14% ao ano. “Este aumento no número de
animais comercializados reflete de certa forma um ganho na profissionalização
da atividade: o produtor enxergar o rebanho como uma fonte de renda, e não
apenas uma atividade de subsistência” analisa Lucena.
Já no caso do leite de cabra, um dos produtos mais importante da
caprinocultura, embora os números apontem um crescimento do efetivo do rebanho,
observa-se uma retração de 30% no segmento da caprinocultura de leite. O número
de estabelecimentos que declaram produzir leite de cabra reduziu de 18 mil para
15,7 mil propriedades, correspondendo a uma redução de 13% no período. Esta
retração no número de estabelecimentos influenciou na redução do rebanho de
cabras ordenhadas, na quantidade de leite produzido e no volume de leite
comercializado.
“Segundo as estatísticas do Censo Agropecuário, em 2006 o rebanho
leiteiro representou cerca de 150 mil cabras ordenhadas, enquanto em 2017, este
rebanho foi estimado em torno de 100 mil cabeças. A redução do rebanho leiteiro
ocasionou diminuição de 10 milhões de litros de leite de cabra, que passou de
35 milhões para 25 milhões de litros no censo de 2017”, destaca Lucena. O
volume de leite de cabra comercializado, mesmo com um pequeno aumento da
proporção entre leite comercializado e leite produzido – que passou de 55% para
59% - reduziu cerca de 5 milhões de
litros, caindo de 19,7 para 14,8 milhões de litros.
De acordo com o analista, embora demonstre uma redução do volume de
leite produzido, o Censo Agropecuário 2017 revela uma tendência de melhoria no
nível tecnológico das propriedades produtoras de leite, que apresentou uma
produtividade média de 237,9 litros de leite/cabra/ano, contra 231,2
litros/cabra/ano verificados em 2006: um ganho de produtividade de cerca de 6,7
litros/cabeças/ano. Já o valor médio do litro de leite alcançou um aumento
nominal de 76% no período, passando de R$ 1,22 para R$ 2,15/litro,
representando uma taxa de crescimento de 6,94% ao ano.
Cícero frisa que, ao observar a realidade de polos produtivos, há
aspectos importantes na região Sudeste, segunda maior bacia leiteira de
caprinos, destacada pelo crescimento de 35% em de Minas Gerais, terceiro maior
produtor de leite de cabra do país, que se manteve estável apesar de reduções
nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Na região Nordeste, a queda na
produção de leite foi de 34%, sendo a maior registrada na Bahia (-60%), segunda
maior bacia leiteira do país. A redução na região foi atenuada pelos
crescimentos de 26% no Estado da Paraíba e de 16% em Pernambuco,
respectivamente, primeiro e quarto maior produtor de leite de cabra do país.
Juntos, estes dois estados nordestinos, representados principalmente
pelas microrregiões dos Cariris Paraibanos (Ocidental e Meridional) e as
microrregiões de Sertão do Moxotó, Vale do Pajeú, Vale do Ipanema e Vale do
Ipojuca, em Pernambuco, se destacam como a maior bacia de leite de cabra do
país, produzindo cerca de 9 milhões de litros por ano. “Grande parte desta
produção está organizada em arranjos produtivos locais organizados em
cooperativas e associações que atuam no beneficiamento da produção e na
articulação da comercialização em programas governamentais como por exemplo o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)”, detalha ele.
Ovinocultura
Se houve crescimento no rebanho de caprinos, o efetivo de rebanho ovino
nacional, de acordo com o Censo, apresentou uma redução de 2,8% quando
comparado ao censo agropecuário divulgado em 2006, permanecendo estacionado em
torno de 13,7 milhões de cabeças. A região Nordeste foi a grande responsável
pela estabilidade do tamanho do rebanho ovino nacional, apresentando um
crescimento de 16%, contrabalanceando as reduções observadas nas demais regiões
do país.
Embora o rebanho permaneça estável, o número de estabelecimentos
agropecuários no país com exploração de ovinos cresceu cerca de 20%, alcançando
526 mil propriedades, sendo este crescimento verificados nas regiões Nordeste
(28,4%) e Sul (12,5%) do país. “Os estabelecimentos da região Sudeste reduziram
em 33%, devido principalmente a redução do número de propriedades com ovinos
nos Estados de Minas Gerais e de São Paulo”, explica Lucena. Porém, assim como
no rebanho caprino, o número de rebanhos ovinos comercializados apresentou uma
taxa de crescimento de aproximadamente 50%, quando comparado ao censo de 2006,
passando de 2,28 para 3,37 milhões de cabeças de animais vendidos, gerando uma
movimentação de R$ 641 milhões. Estes aumentos no número de animais
comercializados foram verificados principalmente nas regiões Nordeste (81,4%) e
Norte (29,7%).
Já a produção de lã ovina, assim como na produção de leite caprino,
apresentou uma redução de aproximadamente 30%, passando de 10 para 7 milhões de
toneladas, refletindo em uma movimentação de R$ 63,3 milhões. “A retração da
produção de lã se dá principalmente devido a redução do número de animais
tosquiados (-27,8%), do que o número de estabelecimentos que produziram lã (-
5,64%). Isso evidencia um novo momento na ovinocultura da região Sul do país,
principalmente do Rio Grande do Sul, que tem nos últimos anos direcionado a
aptidão dos seus rebanhos para a produção de carne”, analisa Cícero.
A proporção entre o volume de lã comercializada e o volume de lã
produzida reduziu de 95% para 92%, bem como a quantidade média de lã produzida
por animal, que passou de 3,3 kg/ano para 3,2 kg/ano. Segundo Cícero, isso
evidencia que o nível tecnológico da produção de lã ovina permanece estagnado,
com pouco investimento no aporte tecnológico. Entretanto, apesar da crise, o
valor médio da comercialização da lã apresentou um ganho nominal de 191% no
período, equivalente a uma taxa de crescimento de 17,4% ao ano, passando de R$
3,31 para R$ 9,65/kg de lã.
Uma novidade no Censo Agropecuário de 2017 é o
levantamento das estatísticas da ovinocultura leiteira. De acordo com o
levantamento realizado, cerca de 750 estabelecimentos agropecuários declararam
produzir leite de ovelhas, representando um rebanho de 5,7 mil ovelhas
ordenhadas, produzindo 1,72 milhões de litros de leite de ovelha. A produtividade
média obtida é 300 litros/cabeça/ano. O volume de leite comercializado alcança
1 milhão de litros, movimentando cerca de R$ 2,75 milhões. “O preço médio de
venda do litro de leite de ovelha foi de R$ 2,74, equivalente a uma agregação
de valor superior a 27%, quando comparado ao leite de cabra, refletindo o
potencial de mercado que este produto vem demonstrando no nosso país”, frisa
Lucena.
Infográficos: Maíra Vergne
Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP)
Embrapa Caprinos e Ovinos
Contatos para a imprensa
caprinos-e-ovinos.imprensa@embrapa.br
Telefone: (88) 3112.7413
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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
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