Doença responsável por
25% das perdas econômicas na produção de caprinos e ovinos, a verminose é causa
de mortalidade de animais e aumenta os custos de produção com medicamentos para
vermifugação. Pesquisas da Embrapa estão em busca de uma alternativa de produto
que possa ser usado como adubo orgânico nematicida, ou seja: provocar redução
da contaminação de parasitas como o Haemonchus contortus nas pastagens e ainda
favorecer o desenvolvimento do pasto.
A procura por
bioinsumos para o controle da verminose nos caprinos e ovinos é motivada para
reduzir o uso indiscriminado dos vermífugos químicos, que têm provocado
surgimento de resistência dos parasitas e risco de contaminação aos produtos de
origem animal e ao meio ambiente por resíduos da medicação. Como 95% da
população parasitária está fora do organismo dos animais, no chamado ciclo de
vida livre no solo e nas pastagens (na forma de ovos ou larvas), a estratégia
de um produto aplicado ao solo para controle no pasto, sem danos ao ambiente,
pode representar uma alternativa promissora em relação às estratégias de
vermifugação.
Testes com resíduos
agroindustriais foram realizados em diferentes etapas, com análise em
laboratório (in vitro) e em avaliação com a forragem no solo, em casa de
vegetação, onde é possível simular condições ambientais. A torta de mamona,
resíduo da indústria de extração de óleo daquele vegetal, foi selecionada por
possuir maior quantidade de nitrogênio por grama de amostra - pré-requisito
para um bom adubo de forrageiras -, além de se apresentar in vitrocomo um bom
nematicida. Diante dos bons resultados ela foi levada para uso no campo com
animais sob pastejo. Com a utilização da torta de mamona, foi possível reduzir
em 60% a contaminação dos animais em relação a um rebanho que pastejava em área
não tratada.
Segundo a médica
veterinária Hévila Salles, pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), a
estratégia de um adubo com propriedades nematicidas pode favorecer um sistema
de controle de verminose em diferentes vertentes: “Aumenta a biomassa vegetal
diluindo-se a quantidade de larvas na vegetação; melhora a qualidade das
pastagens em termos de teor proteico, o que repercutirá em melhor aporte
nutricional para os animais, melhorando sua imunidade; pelo potencial efeito
nematicida direto sobre os estágios de vida livre”, afirma.
De acordo com a
cientista, que nos últimos anos tem coordenado projetos de pesquisa para gerar
alternativas biotecnológicas para produção de insumos, há vantagem no uso de
produtos naturais em relação aos medicamentos sintéticos por serem, geralmente,
de menor toxicidade e mais facilmente degradáveis no meio ambiente.
“De maneira geral, as
pesquisas têm buscado reduzir o uso de produtos sintéticos na pecuária
objetivando avanços em diversos aspectos. E um deles é a redução da presença de
resíduos de medicamentos nos produtos de origem animal a serem consumidos pelo
homem, como a carne, o leite e seus derivados. Essa redução, além de contribuir
para obtenção de alimentos mais seguros, também auxilia para melhor qualidade e
preservação do meio ambiente, uma vez que os resíduos gerados são lançados no
solo via fezes e urina dos animais tratados, podendo, por exemplo, levar à
contaminação de águas subterrâneas. Assim, alternativas de controle da
verminose que venham a reduzir o uso de vermífugos são bem-vindas, e o uso de
produtos naturais é mais uma delas e que deve ser incorporada na estratégia de
controle integrado de verminose”, ressalta.
Após os testes,
subprodutos da mamona, moringa e também de abacaxi entrarão em período de
experimentos em campo em propriedades rurais, que deverão acontecer no período
de 2021 e 2022. Essa última etapa de desenvolvimento da solução tecnológica já
tem um incentivo: a proposta de desenvolvimento de um adubo orgânico nematicida
foi selecionada, em setembro, entre as 28 vencedoras, no Ceará, do Programa
Centelha, destinado a estimular a criação de empreendimentos inovadores - e
receberá recursos de R$ 80 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep),
via Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(Funcap).
Bioquímica no controle
da verminose
Outro experimento foi
conduzido com moringa, para verificação de propriedades nematicidas. Em uma
descoberta pioneira, foram identificadas moléculas responsáveis pela atividade
ovicida (capaz de eliminar ovos de parasitas)naquela espécie, o que pode
contribuir com futuros medicamentos bioativos contra a verminose.
“Uma maneira de avaliar
mais profundamente a qualidade das matérias-primas a serem utilizadas no
desenvolvimento de bioinsumos é conhecer as moléculas responsáveis pela
atividade desejada. No caso da moringa, conseguimos avançar na identificação de
peptídeos ativos, responsáveis pela atividade ovicida da moringa”, informa a
bióloga Márjory Sousa, que conduziu o experimento na Embrapa Caprinos e Ovinos,
como atividade de seu doutorado em Biotecnologia pela Rede Nordeste de
Biotecnologia (Renorbio). “Assim, identificar essas moléculas permitiu também a
seleção de ensaios de atividades mais específicas para o monitoramento da
qualidade do processo de produção dos bioinsumos”, explica ela.
Para Hévila Salles, as
pesquisas para identificação de moléculas naturais têm ótimo potencial para
soluções tecnológicas que dificultem a resistência dos parasitas aos
medicamentos anti-helmínticos. “Uma vantagem no uso de produtos naturais, em
relação aos sintéticos, é que os sintéticos apresentam composição complexa e
geralmente há mais de um princípio ativo envolvido com as propriedades
observadas, o que dificulta o processo de seleção para resistência. Há também a
possibilidade de associação de moléculas naturais a produtos sintéticos,
melhorando a eficiência das drogas existentes no mercado o que pode representar
o uso de doses menores de vermífugos”, explica a pesquisadora.
Outro potencial da
identificação de moléculas com atividade anti-helmíntica, de acordo com a
cientista, é o desenvolvimento de dietas bioativas, nas quais essas moléculas
estariam presentes nos alimentos, que poderiam então ser indicados nas épocas
do ano mais desafiadoras para a verminose, compondo uma estratégia nutricional
para o controle da doença nos rebanhos.
Controle integrado de
verminose
A estratégia de uso de
bioinsumos no solo para controle da verminose no pasto, chamada Econemat,
poderá se somar a outras recomendações necessárias para minimizar a doença, que
abrangem cuidados com as instalações, nutrição animal, avaliação dos animais
para aplicação adequada dos vermífugos. O chamado controle integrado da
verminose é recomendado pela Embrapa para os rebanhos de caprinos e ovinos. Um
detalhamento desse controle pode ser visto no portal Paratec, desenvolvido pela
Embrapa, com apoio de instituições parceiras, para orientar produtores sobre os
cuidados referentes a parasitoses nos rebanhos.
Fonte;Adilson Nóbrega (MTb 01269/CE)
Embrapa Caprinos e
Ovinos
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